Movimentos feministas veem escolha de nova ministra das Mulheres para não ofuscar Janja

Movimentos feministas que apoiam o governo Lula e integram a base petista têm evitado críticas públicas à nova ministra das Mulheres, Márcia Lopes, mas, nos bastidores, deixam evidente que veem a escolha com receio e desconfiança.
Lideranças desses movimentos conversaram com a coluna sob condição de anonimato, com receio de perseguição política. Elas afirmaram que respeitam a trajetória de Márcia Lopes, mas avaliam que seu foco de atuação no assistencialismo não pode ser a tônica da atuação da pasta. Formada em Serviço Social, Márcia Lopes tem sua carreira voltada para área, além de pouco trânsito com os movimentos de mulheres.
Existia a expectativa de que, com a saída de Cida Gonçalves, Lula escolheria um nome de expressão do movimento feminista para ocupar o posto. Com apenas mais um ano e meio de governo pela frente e perda de votos entre as mulheres, que foram decisivas para sua eleição em 2022, havia a avaliação de que uma mulher com mais protagonismo para as causas da pasta seria nomeada. A escolha de Márcia Lopes, de perfil discreto como a antecessora, é vista por movimentos próximos ao governo como uma maneira de não ofuscar a primeira-dama Janja da Silva.
A pauta das mulheres tem influência direta de Janja, assim como os rumos que a pasta toma. Os movimentos destacam a necessidade de ter uma ministra com mais independência, além de trajetória consolidada na luta pelos direitos das mulheres, para fazer entregas efetivas à população.
Hoje, a avaliação desses movimentos é que a troca de comando do ministério não trará ganhos efetivos às mulheres. A leitura é que a pauta ainda seguirá protagonizada pela primeira-dama.
Janja é respeitada, mas sofre certa resistência dos movimentos feministas. Um dos motivos que azedou a relação ocorreu ainda durante a transição de governo, durante uma reunião com movimentos ligados aos partidos que deram sustentação à candidatura de Lula.
Segundo presentes no encontro, Janja afirmou que tinha um grupo de WhatsApp com poucas amigas onde elaborava e discutia políticas públicas para as mulheres. Desde então, a resistência dos movimentos sobre a primeira-dama se instaurou.