Rodrigo Zani
Política com causa: Entre o compromisso social e o perigo do balcão de negócios

Eu já nem me lembro ao certo de quando compreendi que fazer política no cotidiano era uma necessidade vital. Lembro-me, ainda menino, de ouvir falar das Diretas Já, da luta pela redemocratização do Brasil, e de líderes que com coragem e espírito público marcaram a história e também a minha formação pessoal. Não venho de família com tradição política. Sou de origem média para pobre, sem padrinhos ou articulações políticas herdadas. Por isso mesmo, talvez soe estranho aos políticos tradicionais de Goiás que alguém como eu insista em participar da política pública com seriedade. Mas é justamente por isso que insisto: política é causa, não carreira.
Meu despertar para a política veio, inicialmente, da vivência comunitária. No grupo de jovens da igreja católica de Nerópolis, entendi que política está em tudo. Está na escolha de um prefeito, mas também na forma como tratamos os que sofrem. Está na partilha da comida e no planejamento urbano. Aristóteles já dizia: “O homem é, por natureza, um animal político”. E Platão nos advertia que “o castigo por desinteressar-se da política é ser governado por quem se interessa”. Em outras palavras, não há como fugir: viver em sociedade é, por essência, um ato político.
Além disso, venho de uma família que cultiva a doutrina espírita com seriedade e ação. Meus familiares administram casas espíritas em Nerópolis. Aprendi cedo que fora da caridade não há salvação – princípio fundamental do espiritismo. E entendi que caridade, no sentido mais elevado, é política ativa. É justiça social, é olhar para o outro com responsabilidade coletiva. Como nos lembra a Bíblia: “Quando o justo governa, o povo se alegra” (Provérbios 29:2).
Essa compreensão da política como instrumento de transformação me levou à militância. Atuei nos movimentos juvenis e sociais, onde aprendi, com a convivência, que a diversidade é a maior riqueza da democracia. Não há avanço social sem escuta. Não há evolução política sem pluralidade. A juventude me ensinou que os diferentes não são obstáculos, mas condição essencial para a construção de consensos e da verdade pública.
Nos últimos anos, mergulhei no universo da agricultura familiar, inspirado por meus avós, Geraldo Januário e Magilda Zani. Produzir alimento é missão espiritual, econômica e política. A vida no campo ensina sobre o tempo, a escassez, a importância da natureza e da partilha. E também mostra que a política precisa ter chão: discutir reforma agrária, combater a fome, apoiar os trabalhadores rurais e ao mesmo tempo incentivar a eficiência produtiva são caminhos complementares, não opostos.
Dizer-se político hoje exige coragem. O termo foi sequestrado por uma prática que, muitas vezes, mais se assemelha ao balcão de negócios. A política sem causa social vira lobby, vira herança de gabinete, vira moeda de troca. Uma política sem povo é uma política morta. Não é à toa que cresce a descrença popular: política virou, para muitos, sinônimo de autopromoção, quando deveria ser sinônimo de compromisso coletivo.
Vivemos no Brasil – país com a maior biodiversidade do planeta, o povo mais diverso e criativo, a economia entre as maiores do mundo. Mas também o país com uma das maiores desigualdades sociais do planeta. Uma terra marcada pela injustiça histórica, mas também pelo potencial de superação. Precisamos de líderes estadistas, com compromisso com a soberania nacional, com o desenvolvimento sustentável, com a inclusão, com a democracia plena e com a justiça ambiental. No país da Amazônia, não é possível falar de progresso sem pensar em justiça ecológica.
Por isso sigo, sem heranças, sem padrinhos, mas com causas. A política, quando enraizada na justiça, na inclusão e na verdade, pode ser o mais nobre dos instrumentos de transformação.