Rodrigo Zani
O Valor da Social-Democracia no Brasil: Por que resgatar o PSDB histórico?

Em um momento em que o debate político no Brasil se mostra polarizado e empobrecido, torna-se urgente revisitar experiências que, mesmo com erros e contradições, representaram avanços concretos para a sociedade. Nesse cenário, resgatar a essência fundadora do PSDB é mais do que uma reflexão nostálgica — é uma necessidade democrática.
O PSDB nasceu em 1988, em meio à redemocratização do Brasil, como uma resposta à crise de identidade do então MDB, partido que havia cumprido sua missão como oposição à ditadura militar. Fundado “no pulsar das ruas e longe das benesses do poder”, como disseram seus próprios fundadores, o PSDB representava a esperança de uma nova prática política, inspirada na social-democracia europeia e adaptada à realidade brasileira.
Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, José Richa, Teotônio Vilela e outros nomes históricos importaram não um modelo pronto, mas uma filosofia política que valorizava a combinação entre o dinamismo da economia de mercado e os imperativos da justiça social. A social-democracia, nesse contexto, aparecia como alternativa tanto ao autoritarismo quanto aos radicalismos ideológicos. O partido entendia que o Estado deveria ser eficiente e indutor de bem-estar, mas também responsável fiscalmente.
Não por acaso, o PSDB nasceu a partir de um congresso partidário democrático, ouvindo suas bases e dialogando com a sociedade. Até mesmo o nome – Partido da Social Democracia Brasileira – e o símbolo do tucano foram escolhidos de maneira coletiva. O tucano, uma ave brasileira, representava a brasilidade e a ideia de um partido que desejava romper com os vícios da política tradicional sem romper com a institucionalidade democrática.
O auge da trajetória tucana veio com a eleição de Fernando Henrique Cardoso à presidência da República, após o sucesso do Plano Real, um programa econômico de estabilização que resgatou a confiança na moeda e reduziu drasticamente a inflação, melhorando as condições de vida da população mais pobre. FHC foi reeleito no primeiro turno, derrotando Luiz Inácio Lula da Silva, e seus dois mandatos foram marcados por reformas estruturantes: implantação do SUS como política pública nacional, a Lei de Responsabilidade Fiscal, a universalização da telefonia, políticas consistentes de enfrentamento à AIDS (reconhecidas internacionalmente) e programas de combate à desigualdade.
Mesmo após o fim do ciclo presidencial, o PSDB seguiu sendo peça-chave no cenário político, liderando debates importantes e exercendo papel decisivo na oposição. Contudo, nos últimos anos, o partido parece ter perdido parte de sua identidade original, cedendo, por vezes, à lógica do pragmatismo eleitoral e à polarização improdutiva.
Por isso, o momento exige um esforço consciente de resgate. Resgatar o PSDB não significa simplesmente repetir o passado, mas compreender suas raízes para reinterpretá-las à luz dos desafios contemporâneos: a transição digital, as mudanças climáticas, a desigualdade persistente, a crise das instituições e a necessidade de uma nova pactuação democrática no país.
O Brasil ainda precisa de uma força política que una responsabilidade fiscal com sensibilidade social, que busque consensos sem abdicar de princípios, que se aproxime da população sem apelar ao populismo. A social-democracia segue sendo o modelo mais adequado à nossa realidade social, política e econômica — e o PSDB, em sua melhor versão, encarnou esse ideal.
Ainda há tempo e há quadros qualificados dispostos a reconstruir essa ponte com a sociedade. A retomada de um projeto de país, calcado nos valores do equilíbrio, da inclusão e da democracia, é um caminho possível e desejável. E o PSDB, se reencontrar seu rumo, poderá voltar a ser protagonista dessa nova etapa da história brasileira.