Rodrigo Zani

O Mito dos malucos e o fim da farra no poder


O Mito dos malucos e o fim da farra no poder

Na recente sessão de julgamento sobre a tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro protagonizou um espetáculo patético e revelador. O homem que outrora vociferava bravatas contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), agora se mostrou acuado, amedrontado e, surpreendentemente, submisso. Em um gesto de desespero, se curvou diante da grandeza institucional de Alexandre de Moraes — ministro que se tornou um dos maiores defensores da democracia brasileira.

O tom servil de Bolsonaro durante a sessão contrastou violentamente com o personagem autoritário e destemido que encarnava no conforto do Palácio do Planalto. No auge do poder, sentindo-se intocável, insultava, distorcia a verdade, ameaçava instituições e disseminava teorias conspiratórias. Xingava ministros, desqualificava o sistema eleitoral brasileiro e insuflava seus seguidores com mentiras e discursos de ódio. Achava que a farra do poder nunca teria fim. Mas acabou. E acabou mal.

O histórico político de Jair Bolsonaro pouco difere do desastre de seu governo. Durante quase três décadas no parlamento, foi notoriamente improdutivo, conhecido mais pelas polêmicas do que por qualquer contribuição legislativa relevante. Sua trajetória pública é marcada pelo nepotismo descarado: arrastou para cargos públicos não só os filhos — igualmente improdutivos — mas também a esposa, ex-mulheres, irmão e outros membros da família. O Estado brasileiro foi tratado como uma extensão de seu quintal.

No julgamento do STF, assistimos a um Bolsonaro derrotado, que agora tenta apagar sua própria digital dos crimes cometidos. Diante da delação de Mauro Cid, seu fiel escudeiro e homem de confiança, a estratégia passou a ser desqualificá-lo, chamando-o de despreparado e sem credibilidade. A covardia é uma marca de líderes autoritários: enquanto têm o poder nas mãos, são destemidos; quando confrontados pela justiça, recuam e abandonam seus aliados.

O que dizer então do momento em que o "Mito", ídolo da extrema-direita brasileira, pediu desculpas ao ministro Alexandre de Moraes? Ou quando se referiu a seus seguidores mais fanáticos, aqueles que quebraram a Praça dos Três Poderes em seu nome, como "malucos"? Bolsonaro fez de tudo, menos ser o Bolsonaro da internet. Acuado, com medo de vaias na posse do presidente Lula, chegou ao ponto de bajular o próprio Alexandre de Moraes com a absurda proposta de ser seu vice. Um vice que jamais existirá. Primeiro, porque o ministro rejeitou de pronto. Segundo, porque todos sabem — até os cachorros na rua — que Bolsonaro não será candidato em 2026. Está inelegível e seu caminho rumo à condenação parece cada vez mais claro, com provas robustas e trâmite legal sólido.

Ao fim, o "Mito dos Malucos", como ele mesmo definiu seus seguidores, mostra-se apenas mais um líder autoritário desmascarado pela realidade democrática. Frágil, inseguro, intelectualmente limitado e incapaz de sustentar sua própria retórica quando confrontado por instituições sólidas.

É preciso reafirmar, com radicalidade e firmeza: a democracia brasileira resistiu. E continuará resistindo. Não há espaço para covardes travestidos de salvadores da pátria. A democracia pode ser imperfeita, mas é nela que está a verdadeira força do povo. Que a justiça siga seu curso. E que nunca mais se confunda mito com estadista.



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