Rodrigo Zani

Agronegócio e Agricultura Familiar: Dois Gigantes que Exigem Políticas Públicas Distintas


Agronegócio e Agricultura Familiar: Dois Gigantes que Exigem Políticas Públicas Distintas

O agronegócio brasileiro merece reconhecimento por seu protagonismo no cenário global. Com ampla capacidade produtiva, tecnologia de ponta e eficiência logística, esse setor é um dos pilares da economia nacional. Em 2023, o agronegócio foi responsável por aproximadamente 25% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e respondeu por quase metade das exportações do país, segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Produtos como soja, milho, carne bovina e café lideram o ranking das exportações, garantindo superávits expressivos na balança comercial e fortalecendo a imagem do Brasil como celeiro do mundo.


No entanto, ao lado desse colosso econômico, existe um outro Brasil rural, muitas vezes invisibilizado nas grandes manchetes, mas essencial para a segurança alimentar da população: a agricultura familiar. Segundo o Censo Agropecuário do IBGE (2017), mais de 77% dos estabelecimentos rurais brasileiros são de agricultura familiar, representando cerca de 10 milhões de pessoas no campo. Essa agricultura é responsável por aproximadamente 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros — como feijão, arroz, mandioca, leite, legumes e hortaliças — e tem papel decisivo na inclusão social, na geração de emprego e na redução da fome.


Enquanto o agronegócio empresarial foca sua produção para o mercado externo e funciona de maneira industrial, com grande escala e alto capital financeiro, a agricultura familiar opera com lógicas muito diferentes. Seus objetivos são majoritariamente voltados para o abastecimento interno e a sustentabilidade das comunidades rurais. Por isso, os instrumentos de políticas públicas que atendem a cada setor precisam ser distintos em sua concepção, execução e monitoramento.


No campo do agronegócio, são comuns políticas voltadas à competitividade internacional: crédito de grande porte, incentivos fiscais, investimentos em infraestrutura de exportação e acordos comerciais bilaterais. Já a agricultura familiar necessita de políticas específicas de apoio técnico, acesso facilitado ao crédito (como o PRONAF), compras públicas (como o PAA e o PNAE), regularização fundiária, assistência técnica continuada, fomento à agroecologia e fortalecimento de cooperativas e associações.


Além disso, a agricultura familiar possui forte caráter social e comunitário. Suas políticas devem envolver não apenas aspectos econômicos, mas também territoriais, culturais e ambientais. É por isso que defender a existência de órgãos públicos distintos para o agronegócio e para a agricultura familiar é uma medida de justiça e eficiência administrativa. Cada setor tem demandas, públicos e objetivos específicos. Fundir ou confundir suas políticas é comprometer os resultados e aprofundar desigualdades.


Valorizar a agricultura familiar não significa enfraquecer o agronegócio — pelo contrário, é reconhecer que o desenvolvimento rural brasileiro precisa caminhar em duas frentes complementares. Ambos os setores são estratégicos, mas é inegável que a agricultura familiar carece de maior atenção do poder público. Trata-se de promover equidade e garantir que o Brasil continue sendo um dos maiores produtores de alimentos do mundo, sem deixar de alimentar com dignidade o seu próprio povo.



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