Senadores anteveem caminho rápido para isenção do IR com voto da oposição

Folha de S. Paulo
Senadores anteveem caminho rápido para isenção do IR com voto da oposição Os presidentes da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), em solenidade no Palácio do Planalto - Gabriela Biló - 13.ago.2025/Folhapress

Um dia depois de a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 ser aprovada por unanimidade na Câmara, senadores avaliam que a proposta terá tramitação rápida na casa. O texto deverá ter apoio inclusive da oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), assim como aconteceu durante a discussão entre deputados.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), viajou a Macapá antes da votação da Câmara para passar com a família o feriado judaico do Yom Kippur sem dar sinais sobre quem será o relator da proposta. Ele deve cuidar do assunto na próxima semana, quando voltar a Brasília. A expectativa é a de que a votação seja direta no plenário, sem passar pelas comissões.

"Até novembro resolve", disse o líder do PDT, Weverton Rocha (MA). O líder da oposição, Rogério Marinho (PL-RN), afirmou que a bancada se comportará "a exemplo da Câmara" – ou seja, votará a favor como fizeram os deputados do grupo.

"Me parece que há uma convergência na votação dessa proposta de reforma no que diz respeito, principalmente, à faixa de isenção de R$ 5.000", disse o líder do PL, Carlos Portinho (RJ). Ele disse que avaliará as compensações à renúncia de receitas.

Na prática, o Senado já começou a discutir o assunto. O presidente da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), Renan Calheiros (MDB-AL), colocou em votação no colegiado, há uma semana, projeto com conteúdo semelhante ao discutido pela Câmara. A proposta foi aprovada por unanimidade. Ele próprio foi o relator do texto na comissão.

Renan é aliado do governo federal e adversário político do relator do projeto da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Setores do Senado julgam que o gesto de Renan Calheiros foi importante para a Câmara destravar o projeto, estratégico nos planos de reeleição de Lula. A medida fez o emedebista passar a ser cotado para a relatoria do projeto no Senado.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse a jornalistas nesta quinta-feira (2) acreditar que não haverá problemas na tramitação no Senado. "Acredito que vamos ter um apoio tão grande quanto tivemos na Câmara", afirmou.

Ainda na quarta-feira (1º), logo depois da aprovação do projeto pelos deputados, Lula classificou o resultado como "uma vitória em favor da justiça tributária e do combate à desigualdade". Além disso, Lula disse ter certeza que a proposta terá "amplo apoio" no Senado.

O projeto isenta de Imposto de Renda quem ganha até R$ 5.000 por mês e também reduz a cobrança sobre salários entre R$ 5.000 e R$ 7.350.

Hoje, na prática, a isenção já é de até R$ 3.036 por mês. A faixa de isenção da tabela é de R$ 2.428,80 mensais, mas a Receita aplica automaticamente um desconto simplificado de R$ 607,20 que zera o IR de quem ganha até dois salários mínimos (R$ 3.036 em 2025).

Ao todo, a desoneração da base da pirâmide de renda deve beneficiar até 16 milhões de contribuintes a um custo de R$ 31,2 bilhões no ano que vem, segundo o relator na Câmara, deputado Arthur Lira. Para compensar a perda desses recursos, o governo propôs a criação de um imposto mínimo sobre a alta renda, também aprovado apesar das resistências.

A Câmara manteve a proposta do governo de criar um imposto mínimo de 10% sobre a alta renda. O alvo da medida são 141 mil contribuintes que recolhem, em média, uma alíquota efetiva de 2,5% — abaixo do que pagam profissionais como policiais (9,8%) e professores (9,6%).

A alíquota efetiva reflete a proporção de impostos recolhidos em relação à renda total. Embora a tabela do IRPF (Imposto de Renda da Pessoa Física) preveja cobranças de até 27,5%, a legislação prevê uma série de deduções (como despesas médicas) e rendimentos isentos (como dividendos de empresas), que servem para reduzir o peso do tributo.

A equipe econômica do governo avalia a estrutura como injusta, uma vez que são os contribuintes de maior renda que se beneficiam dessas deduções e isenções. O Ministério da Fazenda elaborou estudos em que concluiu que taxar a alta renda melhora a desigualdade, e o governo deflagrou uma ofensiva nas redes sociais em defesa da medida.

Pela proposta, o chamado imposto mínimo será cobrado progressivamente de quem ganha a partir de R$ 50 mil mensais (cerca de R$ 600 mil anuais), sempre que a cobrança regular tiver ficado abaixo do piso estipulado. O mínimo de 10% vale para rendas a partir de R$ 1,2 milhão ao ano, e a cobrança será feita pela diferença: se o contribuinte já recolheu 2,5%, o imposto devido será equivalente aos outros 7,5%.

A implementação da isenção para quem ganha até R$ 5.000 depende diretamente da aprovação dessa medida de compensação. Trata-se de uma exigência da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) e uma necessidade do governo para não desequilibrar o Orçamento.


Entenda as mudanças no Imposto de Renda

Isenção maior e desconto no imposto



  • O projeto isenta de Imposto de Renda os contribuintes com renda mensal de até R$ 5.000. Para isso, o texto prevê um desconto de até R$ 312,89 no imposto que seria devido pelo trabalhador, de modo que o valor a ser pago seja zero.




  • Quem ganha de R$ 5.000,01 a R$ 7.350 por mês não será isento, mas terá um desconto no imposto, que vai diminuir progressivamente conforme a renda aumenta. Para saber quanto será a redução do tributo, basta aplicar a fórmula:

    R$ 978,62 - (0,133145 x rendimentos tributáveis mensais).

    Na prática, quanto mais próximo de R$ 7.350 for o ganho mensal, menor será o desconto, até que ele chegue a zero.




  • Quem ganha mais de R$ 7.350 por mês não terá benefício adicional assegurado pelo projeto, ou seja, a cobrança de Imposto de Renda segue o modelo atual.



Imposto mínimo para os mais ricos
























  • Pessoas físicas que recebem rendimentos acima de R$ 600 mil por ano (o equivalente a R$ 50 mil por mês) estarão sujeitas à cobrança do imposto mínimo, que terá uma alíquota progressiva de 0% a 10% para rendimentos de R$ 600.000,01 a R$ 1.199.999,99.




  • A partir de R$ 1,2 milhão, a cobrança mínima será sempre de 10%. O valor efetivamente devido vai depender do quanto o contribuinte já recolhe habitualmente. Se o imposto pago já tiver sido maior que 10% da renda, não haverá cobrança adicional. O imposto mínimo valerá para aqueles que ficarem abaixo desse patamar — na prática, grandes recebedores de rendimentos isentos (como lucros e dividendos de empresas).




  • Ainda que o imposto mínimo seja uma forma indireta de tributar os rendimentos isentos, o texto prevê exceções. Ficam de fora ganhos de capital (exceto os de Bolsa), heranças e doações, rendimentos de poupança, LCI, LCA, CRI, CRA, rendimentos de certos fundos imobiliários (FII) e Fiagros, e algumas indenizações.




Buscar

Alterar Local

Anuncie Aqui

Escolha abaixo onde deseja anunciar.

Efetue o Login

Recuperar Senha

Baixe o Nosso Aplicativo!

Tenha todas as novidades na palma da sua mão.