Produzida em escala global com quase 100 milhões de toneladas anuais, a maçã é uma das frutas mais consumidas e celebradas do planeta. A expressão inglesa “uma maçã por dia mantém o médico longe”, originada de um provérbio galês do século 19, expressa bem essa fama. Mas será que essa tradição tem respaldo científico?

Segundo especialistas, há bons motivos para incluir a fruta na rotina alimentar. “As maçãs contêm muitos ingredientes que promovem a saúde e fazem maravilhas para o corpo”, afirma Janet Colson, professora de Nutrição e Ciências Alimentares da Universidade do Centro do Estado do Tennessee, nos Estados Unidos.

Ricas em fibras, especialmente pectina, e em compostos antioxidantes como flavonóis, antocianinas e floridzina, as maçãs ajudam a reduzir o colesterol ruim (LDL), estabilizar o nível de açúcar no sangue e até proteger o organismo contra inflamações e doenças crônicas. A floridzina, por exemplo, pode inibir a absorção de glicose, favorecendo o controle glicêmico.

A professora Flavia Guzzo, bióloga vegetal da Universidade de Verona, na Itália, destaca que a fruta apresenta altos níveis de polifenóis — compostos bioativos associados à prevenção de problemas como câncer, doenças cardiovasculares e obesidade. “As maçãs têm o segundo maior poder antioxidante entre todas as frutas”, afirma.

Estudos reforçam os benefícios. Uma análise feita em 2017, com dados de cinco pesquisas, apontou que o consumo de maçã está ligado a uma redução de 18% no risco de desenvolver diabetes tipo 2. Em 2022, outra análise envolvendo 18 estudos indicou que o hábito de comer maçãs ou produtos derivados da fruta pode ajudar a reduzir o colesterol.

Um levantamento de 2015 com cerca de 9 mil pessoas nos EUA buscou verificar se o hábito diário influencia na frequência de consultas médicas. Embora os consumidores da fruta tenham registrado menos visitas, a diferença não foi estatisticamente significativa, possivelmente porque esses indivíduos também tendem a ter melhor nível educacional e hábitos mais saudáveis.

“Segundo nossas análises, as pessoas que consomem maçãs possuem melhor saúde em geral”, afirma Matthew Davis, professor de Epidemiologia da Escola de Medicina Dartmouth Geisel, em New Hampshire. Para ele, mais importante do que o ditado em si é o que ele representa: uma dieta rica em alimentos vegetais.

O mesmo estudo, porém, revelou um dado interessante: pessoas que consomem maçã diariamente têm menor propensão a utilizar medicamentos prescritos. Esse achado se manteve mesmo após o ajuste por fatores socioeconômicos. Por isso, os próprios autores sugerem uma versão mais precisa do provérbio: “uma maçã por dia mantém o farmacêutico longe”.

Outras pesquisas reforçam esse potencial. Um estudo de 2020 dividiu participantes com colesterol elevado em dois grupos: um consumiu duas maçãs por dia; o outro, uma bebida de maçã com o mesmo valor calórico. Após oito semanas, o grupo das maçãs apresentou queda clinicamente relevante nos níveis de colesterol.

Em outro experimento, mulheres acima do peso que comeram três maçãs por dia tiveram redução significativa de peso ao longo do acompanhamento.

Para maximizar os benefícios, a professora Flavia Guzzo recomenda não descascar a fruta. “Devemos comer a casca das maçãs, pois é nela que fica a maior parte dos seus polifenóis”, explica. Ela também destaca que variedades antigas, como a Pom Prussian, preservam mais compostos bioativos do que os tipos modernos, que priorizam sabor e aparência.

A cor da casca — vermelha ou verde — não altera significativamente os benefícios. O importante é consumir a fruta regularmente, sem ignorar a diversidade alimentar. “É ótimo comer uma maçã por dia”, afirma Guzzo, “mas ela deve estar inserida em uma dieta rica em outros alimentos vegetais”.

Ou seja, a maçã pode não ser uma solução milagrosa para evitar consultas médicas, mas certamente é uma aliada valiosa em uma alimentação equilibrada e na prevenção de doenças.