Legendários: masculinismo gospel vira culto político e conquista a direita

O carioca
Legendários: masculinismo gospel vira culto político e conquista a direita Com 50 mil “legendários”, Brasil é o país com o maior número de homens que completaram o desafio. (Foto: Divulgação Legendários Brasil) Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/o-que-e-o-legendarios-movimento-cristao-conq

Uma organização que promove acampamentos pagos, desafios físicos e discursos sobre masculinidade cristã está ganhando espaço institucional no Brasil. O grupo Legendários, que se apresenta como um movimento de transformação masculina, tem recebido homenagens oficiais em câmaras e assembleias legislativas por iniciativa de parlamentares de direita e extrema-direita. Em eventos que chegam a custar até R$ 81 mil, o grupo mistura religiosidade, culto ao corpo e retórica patriarcal em nome da “hombridade”.

A mais recente investida ocorreu em Mato Grosso do Sul, onde a Assembleia Legislativa aprovou no dia 29 de maio a criação do “Dia Estadual dos Legendários”, a ser celebrado anualmente em 13 de julho. O projeto agora aguarda sanção do governador. Propostas semelhantes estão em tramitação em Minas Gerais e já foram aprovadas em municípios como Campo Grande (MS), Passo Fundo (RS) e São João Del-Rei (MG).

Culto à masculinidade entra no Legislativo

O avanço do Legendários no sistema político brasileiro revela um novo braço ideológico da direita cristã, que encontra espaço nas brechas da institucionalidade. O discurso central do grupo é a “restauração do homem” por meio de desafios físicos e espirituais. As atividades são exclusivas para homens e incluem expedições em montanhas, pernoites em acampamentos e testes de resistência, tudo amparado por lideranças religiosas e coaches motivacionais.

A face mais explícita dessa aliança política veio à tona no último dia 3, quando o deputado estadual Paulo Cézar Martins (PL-GO) se autoproclamou o primeiro “deputado Legendário” do país. No plenário da Assembleia Legislativa de Goiás, Martins tirou o paletó e a gravata, evocando o “Legendário 01”, que segundo ele é Jesus Cristo. “Quero reafirmar o caráter e o que é ser homem”, declarou, convidando outros parlamentares a aderirem ao grupo.

Estrutura empresarial com roupagem espiritual

Embora se apresente como um “movimento de transformação”, o Legendários opera sob um modelo comercial altamente lucrativo. Os pacotes para participação em suas expedições variam entre R$ 1.500 e R$ 81 mil, de acordo com a experiência escolhida. Em vídeos e postagens nas redes sociais, os líderes falam sobre “conquistar montanhas” e “viver o propósito de ser homem”. As práticas incluem marchas, jejuns, orações e provas físicas em ambientes extremos.

Apesar de rejeitarem a definição de seita religiosa, os eventos partem quase sempre de igrejas evangélicas e contam com a presença de pastores, cantores gospel e influenciadores cristãos. Entre os nomes que já participaram das atividades estão Neymar Pai, o ex-BBB Eliezer, o humorista Tirulipa e o coach financeiro Thiago Nigro, conhecido como Primo Rico.

Morte em acampamento levanta alertas

Em janeiro de 2024, o grupo ganhou as manchetes após a morte do administrador Fábio Adriano Machado Cherini, de 44 anos, durante um dos acampamentos. A organização afirmou que exige atestado médico dos participantes, mas o episódio expôs os riscos físicos e jurídicos envolvidos nas atividades. Até o momento, não há responsabilização criminal ou cível pelos organizadores.

A despeito do ocorrido, o grupo continua expandindo sua base e colhendo apoios institucionais. O crescimento é impulsionado por uma retórica que mistura neopentecostalismo, empreendedorismo e ideologia de gênero reversa — o discurso de que os homens estariam “em crise” e precisam resgatar seu papel na sociedade.

Uma estratégia da nova direita cristã

A institucionalização do Legendários revela um projeto político-ideológico mais amplo: ocupar espaços públicos com símbolos e práticas de viés conservador. Ao estabelecer datas oficiais em homenagem ao grupo, parlamentares da base evangélica e bolsonarista inserem sua agenda nos calendários cívicos estaduais e municipais, com efeito simbólico e pedagógico.

O discurso da “restauração do homem” ecoa bandeiras do movimento masculinista cristão, que tem ganhado força nas redes e nas igrejas, alimentando a narrativa de que a sociedade estaria corrompida por ideologias feministas, progressistas ou seculares. A adoção de termos como “propósito”, “liderança” e “guerra espiritual” reforça o caráter militarizado e missionário da atuação.


Esclarecimentos


O que é o grupo Legendários?

É uma organização voltada exclusivamente para homens, com forte inspiração evangélica, que promove expedições, desafios físicos e retiros espirituais sob a bandeira da “restauração masculina”. Apesar de se autodefinir como apolítica, atua de forma simbólica na agenda da nova direita cristã.

Por que parlamentares estão homenageando o grupo?

Deputados e vereadores da base conservadora veem o Legendários como ferramenta cultural e moral para sua agenda. Ao instituir datas oficiais, dão legitimidade institucional ao grupo e reforçam sua base eleitoral entre igrejas e movimentos religiosos.



















O grupo representa risco à laicidade do Estado?

Sim. Embora não haja vínculo formal com igrejas, o Legendários opera com linguagem e práticas religiosas. A legitimação estatal de suas ações por meio de homenagens oficiais pode ser interpretada como violação da separação entre Estado e religião, princípio constitucional.




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