Remédios como o Ozempic podem levar à redução do risco de 14 tipos de câncer; veja quais

Um amplo estudo revelou que o uso de agonistas de GLP-1 — medicamentos muito utilizados atualmente para o tratamento de diabetes e para perda de peso, como Ozempic, Wegovy e Mounjaro — está associado a uma redução de 7% no risco de desenvolver 14 tipos de câncer relacionados à obesidade. A pesquisa foi divulgada nesta quinta-feira pela Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco), que irá apresentar o estudo em sua reunião anual, marcada para o final do mês em Chicago.
Financiada pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH), a pesquisa foi conduzida pelo cientista Lucas A. Mavromatis, da Escola Grossman de Medicina da Universidade de Nova York. Em comunicado, ele ressaltou que “embora a obesidade seja atualmente reconhecida como uma causa crescente de câncer, até agora não existia nenhum medicamento comprovado que reduzisse o risco de câncer associado à obesidade”.
Mavromatis acrescenta que “os resultados sugerem que os agonistas de GLP-1 podem diminuir modestamente a probabilidade de desenvolver certos tipos de câncer, principalmente os de cólon e reto, além de reduzir as taxas de mortalidade por todas as causas”.
O estudo é do tipo observacional, ou seja, analisou a relação entre o uso dos análogos de GLP-1 e a incidência de câncer, sem, contudo, conseguir estabelecer uma relação direta de causa e efeito, uma vez que outros fatores podem influenciar os resultados.
“Esses dados são promissores, mas é fundamental realizar mais pesquisas para confirmar a causalidade”, destaca Mavromatis.
A análise incluiu dados de 170.030 pacientes com diabetes e obesidade, provenientes de 43 sistemas de saúde nos Estados Unidos. A média de idade dos participantes era de 56,8 anos, com um índice de massa corporal (IMC) médio de 38 kg/m². Entre 2013 e 2023, aproximadamente metade dos pacientes iniciou tratamento com agonistas de GLP-1, enquanto a outra metade utilizou inibidores de DPP-4 — outro tipo de medicamento para diabetes que não provoca perda de peso.
Ao comparar a incidência de câncer entre os dois grupos ao longo de cerca de quatro anos de acompanhamento, os pesquisadores observaram que aqueles que usaram os agonistas de GLP-1 apresentaram um risco 7% menor de desenvolver cânceres relacionados à obesidade e uma taxa 8% menor de mortalidade por qualquer causa, em comparação aos que fizeram uso dos inibidores de DPP-4. Na prática, isso significa que, entre os dois grupos — cada um com cerca de 85 mil pessoas —, o uso dos agonistas de GLP-1 esteve associado a 170 casos a menos de câncer.
Quando os dados foram analisados separadamente por gênero, a diferença entre os grupos não foi estatisticamente significativa para os homens. Já para as mulheres, o uso dos agonistas de GLP-1 reduziu o risco de câncer em 8% e a mortalidade em 20%.
O estudo ainda destacou que a proteção foi mais evidente para os tumores de intestino e reto, que apresentaram uma diminuição de 16% e 28%, respectivamente, entre as usuárias dos medicamentos.
Robin Zon, presidente da Asco, comenta: “Atendo muitos pacientes com obesidade e, dada a forte ligação entre câncer e obesidade, é fundamental entender o papel clínico dos medicamentos GLP-1 na prevenção do câncer. Embora este estudo não confirme uma relação causal, ele indica que esses remédios podem ter um efeito protetor”.
Como próximos passos, os pesquisadores planejam acompanhar os pacientes por um período maior que quatro anos para avaliar a evolução do risco e também realizar novos estudos envolvendo pessoas que tomam agonistas do receptor de GLP-1 e não têm diabetes.
Segue a lista dos 14 tipos de câncer relacionados à obesidade incluídos no estudo:
Adenocarcinoma do esôfago
Câncer de mama (em mulheres pós-menopausa)
Câncer de intestino
Câncer de reto
Câncer de útero
Câncer de vesícula biliar
Câncer da parte superior do estômago
Câncer de rins
Câncer de fígado
Câncer de ovários
Câncer de pâncreas
Câncer de tireoide
Meningioma (tumor cerebral)
Mieloma múltiplo
O interesse na relação entre esses medicamentos e o risco de câncer vem crescendo. Em julho do ano passado, um estudo publicado na revista JAMA Network Open analisou 1,6 milhão de pacientes com diabetes e já havia encontrado redução em pelo menos 10 tipos de câncer relacionados à obesidade entre usuários de agonistas de GLP-1, em comparação com quem usava insulina ou metformina.
Mais recentemente, um estudo apresentado no Congresso Europeu de Obesidade, em Málaga (Espanha), também identificou uma associação entre o uso dos agonistas de GLP-1 e menor incidência de câncer, com redução semelhante à observada em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica.
Como a cirurgia bariátrica provoca uma perda de peso maior, os pesquisadores sugerem que os mecanismos por trás da redução do risco de câncer com os agonistas de GLP-1 vão além da simples perda de peso, podendo envolver fatores metabólicos distintos.