Cinco países e a União Europeia suspenderam preventivamente a importação de carne e derivados de aves do Brasil, após a confirmação do primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial no país. O foco do vírus H5N1 foi identificado em uma unidade produtora de ovos para matrizes localizada no município de Montenegro, no interior do Rio Grande do Sul.

Até então, o vírus só havia sido detectado em aves silvestres no Brasil. Para conter a disseminação e proteger as exportações brasileiras, o Ministério da Agricultura, em conjunto com autoridades do Rio Grande do Sul, iniciou imediatamente um plano de isolamento sanitário. A intenção é evitar que outros países adotem medidas generalizadas e restringir eventuais proibições apenas à região afetada, como já fez o Japão.

A operação de contenção começou dois dias atrás, com a implementação de sete barreiras de desinfecção nas estradas da região do Vale do Caí — onde ficam Montenegro e cerca de 500 granjas. Caminhões que transportam aves vivas, por exemplo, são submetidos a inspeções rigorosas e higienização com produtos químicos antes de seguir viagem.

Além disso, o governo federal declarou emergência zoossanitária na região, estabelecendo um cinturão de isolamento de 10 quilômetros ao redor da granja infectada. Cerca de 17 aves foram sacrificadas e enterradas por agentes equipados com roupas de proteção.

A granja afetada é uma unidade matrizeira, que produz ovos destinados à incubação em outras regiões, como Minas Gerais, Paraná e o próprio Rio Grande do Sul. Apesar de não haver confirmação de contaminação nos ovos, os estabelecimentos que os receberam foram localizados e instruídos a destruí-los por precaução.

Outro foco do vírus foi identificado no zoológico de Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana de Porto Alegre, que foi fechado ao público. Pesquisadores ainda apuram se há conexão entre os dois casos ou se são eventos isolados, já que o estado está na rota de aves migratórias, potenciais vetores do vírus.

Protocolos e reações internacionais

Mesmo diante das medidas adotadas no Brasil, países como Argentina, Uruguai, China, Chile, México e os integrantes da União Europeia optaram por suspender completamente as importações de aves brasileiras. O Japão, por outro lado, restringiu as compras apenas aos produtos originados em Montenegro.

Há expectativa de que Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita adotem medida semelhante à do Japão, suspendendo apenas as importações provenientes do Rio Grande do Sul. Isso porque esses países têm acordos com o Brasil que preveem a regionalização das sanções, ou seja, a limitação das restrições à área diretamente afetada.

A abordagem varia conforme os protocolos sanitários de cada país. Alguns, como Japão, Arábia Saudita, Filipinas e Emirados Árabes, reconhecem o sistema brasileiro de regionalização, enquanto outros preferem medidas mais amplas em caso de surto.

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) declarou que o registro da gripe aviária em uma granja comercial brasileira representa uma nova fase da presença do vírus no país. Até então, os casos envolviam apenas aves silvestres ou de criação doméstica. A FAO, no entanto, ressaltou que o consumo de carne de frango e ovos segue seguro para a população.

Impacto nas exportações

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços mostram que, entre janeiro e abril deste ano, o Brasil exportou US$ 3,7 bilhões em carne de aves e miúdos. Os principais destinos foram China, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

A suspensão das exportações preocupa o setor, já que pode comprometer o desempenho do país como um dos maiores exportadores de carne de frango do mundo.

Risco para humanos é baixo

Autoridades de saúde reforçam que a gripe aviária raramente atinge humanos. Os casos mais comuns envolvem trabalhadores que têm contato direto com aves infectadas. Em abril deste ano, no entanto, o México registrou a morte de uma criança infectada pelo vírus. Todos os testes realizados em familiares e profissionais de saúde que tiveram contato com a vítima deram negativo.

O governo mexicano justificou a suspensão das importações do Brasil alegando necessidade de mais informações sobre o controle do surto. A proibição inclui carne de ave, ovos férteis e pintinhos de até três dias, entre outros produtos. Entre 2024 e maio de 2025, o México importou 252 mil toneladas de carne de aves, sendo 14% desse total provenientes do Brasil — a maior parte (86%) veio dos Estados Unidos.