Fumar, beber e ser sedentário: quando as consequências dos maus hábitos começam a surgir?

Pode parecer uma pergunta filosófica, mas há ciência por trás dela: quando a vida começa a cobrar os hábitos que cultivamos? Um estudo finlandês recente indica que essa cobrança pode começar bem antes do que se imagina — aos 36 anos.
Segundo os pesquisadores, é por volta dessa idade que o corpo começa a sentir os efeitos negativos de comportamentos como fumar, beber em excesso e ser fisicamente inativo. No entanto, especialistas alertam que essa não é uma regra exata.
“Não significa que até os 36 anos se pode viver sem se preocupar e só então começar a mudar. Essa interpretação está equivocada”, explica Marco Túlio Cintra, geriatra e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).
O que diz o estudo?
O estudo, publicado em abril de 2025 na revista científica Annals of Medicine, analisou dados de voluntários com idades entre 27 e 61 anos, investigando hábitos como tabagismo, consumo de álcool e prática (ou não) de atividades físicas.
O objetivo era compreender como esses comportamentos se acumulam ao longo da vida e quais são suas consequências para a saúde.
Entre os principais efeitos identificados estavam:
Aumento de sintomas depressivos
Queda no bem-estar psicológico
Piora na autoavaliação da saúde
Aumento de fatores de risco metabólicos
Por que aos 36?
A idade mencionada como marco vem da metodologia estatística utilizada na pesquisa — não se trata de um número mágico. A pneumologista Lúcia Sales, da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), explica que os efeitos prejudiciais à saúde variam muito de pessoa para pessoa e dependem da intensidade e do tempo de exposição aos hábitos nocivos.
“Por exemplo, no tabagismo, usamos o indicador anos/maço. A partir de 10 anos/maço, já aumenta o risco de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC); com 20 anos/maço, cresce o risco de câncer de pulmão”, detalha.
O mesmo vale para o sedentarismo e o consumo excessivo de álcool: todos são fatores de risco conhecidos para doenças crônicas e para a perda da qualidade de vida.
Então, quando devemos mudar de hábitos?
A resposta é simples e direta: quanto antes, melhor.
“A idade ideal para começar a cuidar da saúde foi ontem”, reforça Marco Túlio Cintra.
Os especialistas são unânimes em afirmar que não existe um momento exato para os efeitos aparecerem — eles surgem como resultado do acúmulo dos maus hábitos ao longo do tempo. Por isso, a melhor estratégia é adotar um estilo de vida saudável o quanto antes.
Dicas para um envelhecimento saudável:
Alimentação equilibrada, com redução de alimentos ultraprocessados, sal e açúcar
Prática regular de exercícios físicos
Sono de qualidade, com noites bem dormidas
Evitar o tabagismo
Moderação no consumo de álcool, se não houver contraindicações
Estimular a mente, com leitura, hobbies e interação social
Segundo os médicos, essas atitudes não apenas reduzem o risco de doenças crônicas, mas também ajudam a manter a saúde mental e emocional em dia.
“O autocuidado diário, seja na prevenção ou em pequenas atitudes, tem um impacto direto na forma como envelhecemos”, conclui Lúcia Sales.