Por que o cérebro insiste no negativo, veja como treinar uma mentalidade mais positiva

Imagine receber um gesto de gentileza no trabalho, como um cookie de chocolate de um colega, mas logo em seguida ser criticado por outro membro da equipe pelo seu relatório. Ao fim do dia, é provável que a crítica pese mais na memória do que o mimo. Isso acontece por causa de um fenômeno psicológico conhecido como viés de negatividade, uma tendência do cérebro humano de dar mais atenção e peso aos eventos negativos do que aos positivos — mesmo quando têm a mesma importância objetiva.
“Simplificando, o ruim é mais forte que o bom. Respondemos com mais intensidade a coisas que podem nos ferir ou prejudicar do que àquelas que podem nos beneficiar”, explica Catherine Norris, professora de Psicologia e Neurociência no Swarthmore College.
Apesar de incômodo, esse viés tem uma razão evolutiva importante: ajudar o ser humano a evitar ameaças. “A sobrevivência é realmente o principal objetivo de qualquer indivíduo”, afirma Catherine. Ela destaca que esse comportamento vem da necessidade de identificar perigos rapidamente — como, por exemplo, quando alguém encontrava um tigre ao buscar água.
Esse instinto, segundo Alison Ledgerwood, professora da Universidade da Califórnia em Davis, se estendeu a outros tipos de situações. “Esse foco se generaliza para qualquer informação negativa, mesmo quando não representa um perigo do nível de um tigre”, explica. Hoje, as ameaças são outras: “Muitas pessoas perderam seus empregos e não conseguem acessar os cuidados de saúde de que precisam. Eu colocaria esse tipo de problema no nível dos tigres”, compara.
Estudos com exames de imagem, como a ressonância magnética funcional, mostram que o cérebro reage com mais intensidade a estímulos negativos. Catherine afirma que, mesmo quando imagens são repetidas várias vezes, a resposta ao conteúdo negativo se mantém — e, em alguns casos, até aumenta. “O cérebro entra em alerta e presta atenção. Ele realmente começa a prestar mais atenção quando o mesmo estímulo negativo se repete”, observa. Em certas situações, essas reações podem durar até um ano.
Outra descoberta importante é que o viés de negatividade varia bastante entre as pessoas. Catherine observou em suas pesquisas que as mulheres tendem a apresentar reações mais intensas a imagens desagradáveis, como cenas de mutilação ou cadáveres. “Os homens exibem um viés de negatividade menor, possivelmente incentivando comportamentos mais arriscados”, escreveu ela em um artigo publicado em 2021.
Embora o viés de negatividade tenha sua utilidade, especialistas alertam que ele pode contribuir para quadros de estresse, ansiedade e depressão. A boa notícia é que há formas de lidar com ele — e até de usá-lo a favor do equilíbrio mental.