Andressa da Silva Palmiro
Transtorno Afetivo Bipolar (TAB): Navegando Pelas Marés da Emoção e as Perspectivas da Ciência Internacional

O Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), uma condição psiquiátrica complexa e crônica, é caracterizado por flutuações significativas e, por vezes, extremas no humor, energia, níveis de atividade e capacidade funcional. Longe de ser uma mera "alteração de humor", o TAB representa um desafio substancial para indivíduos, famílias e sistemas de saúde globalmente, demandando abordagens diagnósticas precisas e estratégias terapêuticas baseadas em evidências.
A Natureza do TAB
O espectro bipolar abrange a alternância entre episódios de mania (ou hipomania) e depressão. Durante a fase maníaca, observa-se um humor elevado, eufórico ou irritável, acompanhado de aumento de energia, redução da necessidade de sono, pensamentos acelerados (fuga de ideias) e, em casos mais graves, sintomas psicóticos. A hipomania apresenta características semelhantes, porém com menor intensidade e sem causar prejuízo funcional tão acentuado ou psicose. Em contrapartida, os episódios depressivos são marcados por tristeza profunda, anedonia, fadiga, alterações no sono e apetite, e sentimentos de desesperança e inutilidade (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013).
A heterogeneidade do TAB é amplamente reconhecida na literatura internacional. O Transtorno Bipolar Tipo I envolve a ocorrência de pelo menos um episódio maníaco completo, enquanto o Tipo II se manifesta por episódios de hipomania e um ou mais episódios depressivos maiores. Outras formas, como o Transtorno Ciclotímico, envolvem flutuações de humor mais leves, mas crônicas (GOODWIN; JAMISON, 2007). A compreensão dessas nuances é crucial para um diagnóstico acurado e um planejamento terapêutico eficaz.
Desafios e Comorbidades: Uma Perspectiva Global
O TAB impacta significativamente a qualidade de vida, o desempenho ocupacional e as relações interpessoais. Estudos internacionais indicam que o transtorno está associado a altas taxas de desemprego, dificuldades financeiras e problemas de relacionamento (GHAEMI, 2003). Além disso, a presença de comorbidades é a regra, e não a exceção. Transtornos de ansiedade, transtornos por
uso de substâncias e transtornos alimentares frequentemente coexistem com o TAB, complicando o quadro clínico e o manejo terapêutico (MCINTYRE et al., 2014).
Um dos aspectos mais críticos e trágicos associados ao TAB é o elevado risco de suicídio. A taxa de suicídio em indivíduos com TAB é consideravelmente maior do que na população geral, particularmente durante os episódios depressivos ou em fases de transição de humor (TARDIEU et al., 2012). A desesperança, a impulsividade e a angústia intensa podem culminar em atos autodestrutivos.
Nesse contexto, a obra de Neury Bottega, "Suicídio: Mudar é Preciso", oferece uma perspectiva valiosa sobre a complexidade do suicídio e a necessidade de intervenção humanizada. Embora não seja um tratado sobre TAB, o livro de Bottega (2019) destaca a importância de reconhecer a vulnerabilidade e o sofrimento que podem levar ao suicídio, um tema de relevância universal para qualquer condição que aumente esse risco, incluindo o TAB. Ele sublinha a urgência de uma abordagem compreensiva e multidisciplinar para a prevenção.
Abordagens Terapêuticas e o Consenso Internacional
O manejo do TAB é complexo e multidisciplinar, combinando farmacoterapia e intervenções psicossociais. As diretrizes internacionais, como as da International Society for Bipolar Disorders (ISBD) e da American Psychiatric Association (APA), enfatizam a importância dos estabilizadores de humor (lítio, valproato, lamotrigina) e antipsicóticos atípicos como pilares do tratamento para a estabilização do humor e prevenção de recaídas (YATHAM et al., 2018).
A psicoterapia desempenha um papel complementar vital, auxiliando os pacientes a desenvolver estratégias de enfrentamento, a identificar gatilhos e a melhorar a adesão ao tratamento. Entre as abordagens mais eficazes, a Terapia Cognitivo- Comportamental (TCC) se destaca. A TCC auxilia o indivíduo a identificar e modificar padrões de pensamento e comportamento disfuncionais que contribuem para a instabilidade do humor. A metodologia de Judith S. Beck, uma das mais influentes no campo da TCC, propõe um modelo estruturado e colaborativo, focado na resolução de problemas e no desenvolvimento de habilidades (BECK, J. S., 2011). Sua abordagem enfatiza a psicoeducação sobre o transtorno, o monitoramento do humor, a identificação de pensamentos automáticos e crenças disfuncionais, e a construção de estratégias para lidar com os sintomas maníacos e depressivos. Abordagens como a Terapia Interpessoal e de Ritmo Social (TIRS) e a Terapia Focada na Família (TFF) também têm
demonstrado eficácia na redução da frequência e gravidade dos episódios e na melhoria do funcionamento psicossocial (MIKLOWITZ; JOHNSON, 2009).
Além disso, a educação do paciente e de seus familiares sobre a natureza crônica do TAB, a importância da adesão ao tratamento e o reconhecimento precoce dos sintomas prodrômicos são componentes essenciais do manejo a longo prazo. A promoção de um estilo de vida saudável, incluindo sono regular, atividade física e abstinência de substâncias, também contribui significativamente para a estabilidade do humor.
Conclusão
O Transtorno Afetivo Bipolar é uma condição psiquiátrica de grande relevância global, cujos desafios são constantemente investigados e debatidos pela comunidade científica internacional. Embora apresente uma complexidade considerável, os avanços na compreensão de sua neurobiologia, diagnóstico e manejo terapêutico têm permitido que indivíduos com TAB alcancem uma melhor qualidade de vida. A combinação de tratamento farmacológico baseado em evidências, psicoterapias eficazes — como a TCC de Judith Beck, que capacita o paciente a gerenciar seus padrões de pensamento e comportamento — e um sistema de apoio robusto é fundamental para navegar pelos extremos da emoção e promover a estabilidade. A conscientização, a redução do estigma e o acesso a cuidados especializados são imperativos para garantir que todos os que vivem com TAB recebam o suporte necessário para uma vida plena.