Líderes ostentam vida luxuosa à custa de descontos dos benefícios de aposentados

Associados a políticos, empresários ostentam mansões e carros de luxo enquanto enfrentam acusações de desvios milionários no INSS

Metrópoles
Líderes ostentam vida luxuosa à custa de descontos dos benefícios de aposentados Reprodução

Mansões que valem mais de R$ 20 milhões, apartamentos nos bairros mais caros da capital paulista, carros de luxo, contratos públicos, negócios com lobistas e festas com políticos em resort. Esse é o padrão de vida dos donos e executivos das empresas por trás das principais entidades que se beneficiam dos descontos sobre aposentadorias do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).


Essas associações mantêm convênios com o INSS que lhes permitem cobrar mensalidades associativas de aposentados, com desconto direto na folha de pagamento do benefício, em troca de supostas vantagens em serviços como plano de saúde, seguro e auxílio-funeral. O problema é que, em milhares de processos judiciais, elas têm sido acusadas — e até condenadas — de fraudar filiações por aposentados que dizem sequer conhecê-las.


As associações viraram alvo de investigações da Controladoria-Geral da União (CGU), do Tribunal de Contas da União (TCU) e do próprio INSS após o Metrópoles revelar que, em meio a denúncias de descontos indevidos, houve um salto de R$ 85 milhões para R$ 250 milhões no faturamento mensal das 29 entidades credenciadas pelo órgão — em um ano, elas receberam mais de R$ 2 bilhões.


Na última sexta-feira (5/7), o diretor da área do INSS responsável por autorizar e fiscalizar esses convênios foi demitido. Com base nas reportagens do Metrópoles, o Ministério Público Federal (MPF) pediu a suspensão dos descontos e a devolução de dinheiro aos aposentados lesados.


Políticos e grandes negócios


Entre as entidades que se destacam nos repasses do INSS estão a Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec), o Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (Cebap) e a União dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (Unsbras) — atual Unabrasil. Juntas, essas entidades receberam R$ 56 milhões com os descontos de aposentados somente em maio deste ano.


Como mostrou o Metrópoles, todas têm em suas diretorias parentes e funcionários de empresas ligadas a um mesmo grupo de empresários que cultivam boas relações com senadores, governadores, deputados e prefeitos, além de lobistas conhecidos em Brasília que já foram alvo da Polícia Federal (PF). Eles são donos e executivos do Grupo Total Health (THG), que controla seis empresas na área de saúde e seguros e detém contratos públicos.


À frente desse grupo está o empresário Maurício Camisotti. Dentista de formação, ele fundou a Prodent, do ramo de assistência odontológica, que acabou vendida à SulAmérica por R$ 145 milhões, em 2018. Àquela altura, Camisotti era a figura central do Grupo THG, cujas empresas estão formalmente em seu nome e de seu braço direito, José Hermicesar Brilhante Palmeira, que foi missionário de uma igreja na zona leste de São Paulo por mais de 30 anos.


Em eventos, o Grupo THG apresenta como seu braço nas “relações governamentais” o empresário e ex-deputado estadual pelo PSDB Antônio Luz Neto, bisneto do ex-governador de Santa Catarina Hercílio Luz. Ele foi convidado há poucos anos por Camisotti para atrair investimentos e fazer o IPO de suas empresas, o que ainda não aconteceu. Ele não tem parentes nas associações ligadas à THG e rechaça a alcunha de “relações governamentais” porque não quer ser associado à atividade de lobby.


Festas


Com bom trânsito no Congresso Nacional, Antônio Luz reuniu, em abril deste ano, executivos do Grupo THG, incluindo Camisotti, senadores, deputados, lobistas e até um governador no luxuoso Resort Ponta dos Ganchos, localizado na cidade de Governador Celso Ramos (SC). A diária no resort pode chegar a R$ 10,7 mil. Segundo convidados, tratava-se de uma comemoração antecipada de seu aniversário, que é só em agosto.


Na ocasião, o hotel foi praticamente todo ocupado por figuras proeminentes da política, como o deputado federal Marcos Pereira, presidente do Republicanos e candidato à sucessão de Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara. A festança coincidiu com o aniversário de Pereira. Nela, Antônio Luz tocou e cantou ao lado do ex-senador e empresário Cidinho Santos (PL). Na pista de dança, estavam Camisotti e outros empresários e políticos.


Também compareceram ao evento, que contou com cerca de 40 convidados, o governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (União), e deputados como Pedro Lupion (PP-PR) e Elmar Nascimento (União-BA), que também é candidato à sucessão de Lira. Procurados pelo Metrópoles, todos silenciaram sobre quem bancou a viagem e a hospedagem.Segundo apuração do Metrópoles, Hermicesar Camisotti reside em um apartamento avaliado em R$ 9,2 milhões na capital paulista e adquiriu uma mansão em Porto Feliz (SP) por R$ 22 milhões em 2021, além de outra mansão tombada no Jardim Europa pelo mesmo valor no mesmo ano.


Seu patrimônio, entre imóveis e veículos, ultrapassa os R$ 60 milhões. Uma de suas empresas possui uma frota de oito carros de luxo, incluindo Mercedes-Benz, Porsche e Lamborghini Urus, avaliada em R$ 3,1 milhões. Esta mesma empresa detém imóveis no valor de R$ 5 milhões.


Camisotti, nos últimos anos, realizou grandes negociações com o Poder Público. Em 2017, uma de suas empresas conseguiu um contrato mensal de R$ 9 milhões com o Geap, plano de saúde dos servidores federais, cuja diretoria é indicada pela Casa Civil e pelo INSS, na época controlado pelo Partido Progressistas (PP).


No governo Bolsonaro, militares assumiram o Geap em 2020 e rescindiram contratos com as empresas de Camisotti, alegando prejuízo milionário, resultando em uma disputa judicial no STJ. Para defender seus interesses, Camisotti contratou o advogado Marcos Tolentino, acusado pelo MPF de envolvimento no escândalo da Precisa Medicamentos durante a pandemia da Covid-19.


Além disso, Camisotti teve negócios com a Precisa Medicamentos, incluindo uma operação de R$ 18 milhões em dólares para fornecer testes de Covid ao governo do Distrito Federal, embora o banco tenha bloqueado a transação.


Empresários negam quaisquer irregularidades 


O Grupo THG, seus executivos e as associações Ambec, Cebap e Unsbras/Unabrasil têm negado qualquer irregularidade e afirmado que vão implementar a biometria nas filiações, conforme exigências do INSS e de órgãos como o TCU, visando aumentar a segurança nos cadastros.


Maurício Camisotti nega qualquer envolvimento com lobistas e políticos, afirmando que sua interação com a Precisa foi limitada a um empréstimo pessoal, sem relação com a compra de vacinas.


“O referido empréstimo foi realizado em época diferente da reportagem sobre vacinas, inclusive, a ação judicial de cobrança do débito junto à Precisa foi ajuizada em data anterior (cerca de dois anos) ao caso de compra de vacinas”, afirma. “Não tenho qualquer ligação com lobistas ou políticos do Centrão”, diz o empresário, que afirma ser vítima de tentativas de atingir sua imagem.


Camisotti também rechaça ser “dono” das entidades Ambec, Cebap e Unsbras. “Nunca procurei ou indiquei qualquer pessoa para o quadro associativo ou dirigente. Como alguém pode ‘ser dono’ de algo que não comporta tal atribuição?”, diz. “As associações são entidades constituídas por seus associados, representada pelo quadro diretivo eleito, portanto, as associações não tem ‘dono'”, completa.




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