Marinho critica juros altos e diz que Selic trava geração de empregos no país

O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, criticou duramente o atual patamar da taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, durante coletiva nesta segunda-feira (30). Ao comentar os dados da geração de empregos formais no mês de maio, o ministro afirmou que os juros elevados estão travando o crescimento econômico e a criação de vagas no país.
“Nós somos escravos dos juros altos. Os juros atrapalha um bocadinho [a criação de empregos]. Se não fosse o juros nesse patamar, seguramente poderíamos estar crescendo mais, isso sem dúvida nenhuma”, declarou o ministro, ao se referir ao impacto da política monetária na atividade econômica.
Atualmente, a Selic está fixada em 15% ao ano, após sete aumentos consecutivos promovidos pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Apesar da sinalização de estabilidade para os próximos meses, o mercado segue cético quanto à possibilidade de retorno da taxa a um dígito ainda no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Desempenho do mercado de trabalho
Segundo dados apresentados por Marinho, o Brasil criou 1,051 milhão de empregos formais no acumulado deste ano, um número inferior ao mesmo período de 2024, quando o saldo foi de 1,1 milhão — queda de 4,9%. Para o ministro, esse ritmo mais lento está diretamente relacionado ao custo elevado do crédito.
“A velocidade do crescimento deste ano está aquém das possibilidades, especialmente a partir do papel dos juros e cada vez se reforça isso. Acho que isso é um parâmetro para o Banco Central poder olhar e quem sabe desarmar a armadilha que lá existe”, pontuou Marinho. “Quem sabe isso [desaceleração da criação de empregos com carteira assinada] deixe o pessoal do Banco Central feliz e possa começar o processo de redução dos juros”, ironizou.
Críticas à Selic e à condução do BC
Ao ser confrontado com as previsões do mercado financeiro, que apontam para a manutenção dos juros em dois dígitos até o fim do atual governo, o ministro reagiu com ironia: “Até o fim desse atual governo? Temos que cortar os pulsos se acontecer isso. Não é isso que ouvi não. Não posso acreditar nisso não.”
Marinho também demonstrou ceticismo com os boletins do mercado. “Me recuso a acreditar nisso, não é possível um negócio disso. Espero que tenha mais juízo na turma que tem essa bússola”, disse, referindo-se ao relatório Focus, do Banco Central, que compila semanalmente as estimativas das instituições financeiras.
Segundo o Focus, a Selic deve permanecer elevada por mais tempo:
- 2026: 12,5% ao ano
- 2027: 10,5% ao ano
- 2028: 10% ao ano
Apelo por produção e pacto nacional
Para o ministro, é necessário repensar a estratégia de combate à inflação. Ele defendeu uma abordagem mais ampla, que inclua aumento da produção e ações coordenadas.
“A gente precisa chamar um pacto, porque não é só política monetária que dá conta da inflação. Tem que aumentar a produção, ampliar a oferta, reduzir gargalos”, afirmou.
A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 29 e 30 de julho. Até lá, o impasse entre o governo e o Banco Central em torno da política de juros promete continuar no centro do debate econômico.