Caiado é convidado vip em evento internacional de empresa que já sonegou R$ 20 bilhões em ICMS

A Refit, apontada como a maior devedora de ICMS do país, será patrocinadora oficial de um evento marcado para 13 de maio no luxuoso hotel St. Regis, em Nova York. A empresa, que integra o grupo empresarial liderado pelo advogado Ricardo Magro, acumula dívidas tributárias bilionárias, devendo R$ 9,14 bilhões ao estado de São Paulo e outros R$ 10,87 bilhões ao Rio de Janeiro, segundo informações das Procuradorias Gerais desses estados. O encontro ocorrerá em um dos endereços mais sofisticados da cidade, com diárias superiores a R$ 11 mil, e reunirá representantes dos três poderes da República.
Apesar do histórico de prejuízos financeiros acumulados pelas empresas do grupo e das vultosas dívidas tributárias, o evento contará com a participação destacada do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, além dos governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo) e Cláudio Castro (Rio de Janeiro). Os três chefes estaduais são cotados como potenciais nomes para disputar a presidência em 2026, destes quais, Caiado já até lançou a pré-candidatura. Também confirmaram presença o ministro presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, e o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil.
O envolvimento direto de Ronaldo Caiado chama atenção especialmente por Goiás também possuir valores inscritos em dívida ativa relacionados a empresas ligadas ao grupo empresarial da Refit. A proximidade institucional do governador goiano com um evento patrocinado pela empresa gera questionamentos sobre a relação entre grandes devedores e autoridades públicas. Analistas do setor apontam que a presença de Caiado, assim como de autoridades dos outros poderes, reforça a percepção de que grandes inadimplentes conseguem manter relacionamentos institucionais estáveis, mesmo diante de passivos tributários bilionários.
Ricardo Magro, líder do grupo empresarial que controla a Refit, vive atualmente em Miami e já foi advogado de Eduardo Cunha, além de ter sido preso sob acusação de desviar mais de R$ 90 milhões do fundo de pensão dos Correios. Além da Refit, Magro atua no setor de combustíveis por meio de empresas como Fera Lubrificantes, Orizona Combustíveis, Estrela Distribuidora e Máxima Distribuidora, muitas delas operando em regimes tributários especiais ou sem recolhimento antecipado do ICMS na origem.
De acordo com documentos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Refit afirma operar exclusivamente com recursos próprios, sem recorrer a financiamentos bancários. Ainda assim, o grupo encontra-se em recuperação judicial e registra prejuízos consecutivos há pelo menos 16 anos, conforme dados enviados às autoridades reguladoras. Apesar dos problemas financeiros, a empresa vem ampliando sua participação no mercado, respondendo hoje por 31% do volume de gasolina e etanol comercializado no estado do Rio de Janeiro.
Recentemente, em 2023, a Refit anunciou uma parceria para trazer ao Brasil a marca norte-americana Gulf, numa tentativa estratégica de reposicionamento no mercado e atração de novos investidores. Nos bastidores, a escolha de Nova York para sediar o evento patrocinado pela empresa é interpretada como uma tentativa clara de "lavagem de imagem corporativa", segundo fontes do setor ouvidas sob anonimato. Além de autoridades brasileiras, a conferência terá representantes internacionais e executivos da indústria energética, criando um ambiente de validação institucional para uma empresa marcada por décadas de disputas fiscais.
Mesmo diante das ações policiais, fiscalizações tributárias intensas e processos judiciais em andamento, a Refit segue demonstrando capacidade de influência e inserção em diferentes esferas de poder, com destaque especial para a participação do governador Ronaldo Caiado, cuja presença reforça o peso político do evento e levanta questionamentos sobre as relações entre grandes devedores e o poder público.